lunes, 26 de agosto de 2013

Espécie de Caetano do Uruguai, Fernando Cabrera quer voltar ao Brasil

As luzes do pequeno espaço de concertos do bairro de Palermo Viejo se apagam. O público, composto principalmente de uruguaios e argentinos, observa o artista e, de forma solene, acompanha quase à perfeição com os lábios as sinuosas letras. Não são poucos os que fecham os olhos.
Assim, em geral, se comporta a audiência dos shows do uruguaio Fernando Cabrera, espécie de Caetano Veloso do Uruguai, um mestre da canção do Rio da Prata, que lança agora um novo disco e deve tocar em São Paulo no segundo semestre.
Em "Viva la Patria", Cabrera apresenta 15 canções inéditas, que reforçam sua linha de criação, uma mistura de milonga, candombe e música popular contemporânea.
O que faço é algo muito daqui, que começou a se forjar nos anos 1950, 1960, mas que não existiria se não fossem influências internacionais, como os Beatles e a bossa nova", disse, em entrevista à Folha, de Montevidéu.
Cabrera moldou seu estilo a partir da influência de uma geração de músicos uruguaios anteriores a ele, como Ruben Radá, Eduardo Mateo e os irmãos Fattoruso.
"Há semelhanças entre a música popular brasileira e a uruguaia, principalmente no que diz respeito à raiz africana de ambas", afirma. "Além disso, a minha geração bebeu muito, também,na fonte de Tom Jobim, Chico Buarque e Milton Nascimento."
As diferenças, por sua vez, têm a ver com a linha de contato intensa entre alguns pontos do Rio da Prata, além de Montevidéu e Buenos Aires, Entreríos e Santa Fe. "Essa região, culturalmente, é uma só", explica.
Para Cabrera, a dificuldade que a música latino-americana tem de entrar no Brasil deve-se ao fato de o país estar muito encerrado em sua própria tradição musical.
Ainda assim, o músico vê com interesse a conexão entre artistas contemporâneos argentinos, brasileiros e uruguaios, como é o caso de Fito Páez, Paulinho Moska, Vítor Ramil, Ana Prada e Jorge Drexler, entre outros, que se autodenominam integrantes de uma espécie de "movimento" chamado de "estética do frio".
De Jorge Drexler, o conterrâneo que chegou à fama por meio do cinema e da conexão com a música brasileira, Cabrera se diz um fã, apesar de pertencer a uma geração diferente.
No começo do ano, Cabrera lançou um livro-DVD, com um show gravado ao vivo em Buenos Aires e um conjunto de 56 poemas, "Intro", editados pelo selo uruguaios Ayuí.
Neles, Cabrera repassou sua carreira, incluindo êxitos como "El Tiempo Está Despues", "Viveza", "La Casa de Al Lado" e "Viajantes".
"Cada concerto para mim é uma experiência única, daí a importância de registrar uma sessão do começo ao fim. Já no estúdio sou uma outra pessoa, outro tipo de artista, são diferentes os requisitos."
No Brasil, Cabrera já se apresentou em Brasília e em São Paulo, mas julga que ainda não fez sua apresentação mais expressiva. "Espero poder mostrar 'Viva la Patria' no Brasil, em breve, e fortalecer essa ponte cultural", diz.

SYLVIA COLOMBO

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